As estações da alma.
A alma voa, deixando por onde passa... os seus rastros em forma de poesia.
Textos
Redenção-Ce.
A primeira cidade do Brasil à libertar os seus escravos.

 





 
Tempos  Idos
28.08.16
Reeditado

 
 



Com o gosto do sapoti doce e maduro, colhido nas matas, derramando na boca o seu gosto perfeito, sua seiva, onde me delicío, contemplo a sua árvore  imponente, orgulhosa do seu fruto, com toda a razão, vejo por entre a sua folhagem,  o céu mais límpido azul contrastando o verde, a passarada em festa, comorando algo bem particular, talvez hoje seja um dia especial para eles, tanto quanto pra mim. Abaixo o açude transbordando, testemunhando o momento, o mesmo antigo açude que enfrenta as secas ano após ano, que assistiu as carreiras, os gritos na escravidão, os gemidos, a profunda tristeza  dos escravos presos aos troncos nas correntes, à solidão. Hoje, nele eu refletida, ele me olha, e silenciosamente me diz; -Também de ti me lembro, e dos teus irmãos, que ao meu redor aqui corriam inocentes brincavam, comiam os frutos, há quanto tempo se foram, depois que cresceram, que bom que aqui voltastes e a mim também visitas, mata as tuas saudades, eu que na verdade nada sei de tua vida, me contas... Se quiseres, se puderes, vejo que o tempo te transformou, mas ainda carregas no olhar alguns sonhos, estás feliz ou apenas te arrastas pela vida?...

- Tempos idos...

É uma vida inteira que guardo em mim e que jamais gostaria que fosse esquecida em páginas envelhecidas como eu, sabe, daquele tempo até voltar aqui, tantas coisas me aconteceram, muitas vitórias conquistei, outras batalhas perdidas me fizeram amadurecer, algumas páginas do livro da minha vida rasguei e queimei deixando as suas cinzas desaparecerem no ar levando a tristeza, dando lugar à esperança, guardo do passado somente as boas lembranças, para continuar sobrevivendo sem enlouquecer, outras ressaltei e vim contigo dividir... Sim, sofri muito mas também fui e sou feliz,  tenho muitos sonhos à realizar, da vida nunca desisti. Não, não queira que eu te conte a minha história, não terias paciência de me ouvir... Tenho que ir... Já é tarde, estão me esperando para o almoço, estão todos na casa grande, lembra a casa do meu avô? Hoje nos reunimos todos lá, eu fugi, vim como dissestes, matar a saudade, agora preciso realmente ir, não quero mexer no meu passado. Vou com lágrimas nos olhos, mas como gostaria de morar perto de ti, quem sabe voltarei para uma pescaria, vejo que continuas guardando em teu seio tanta vida.
Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 31/08/2016
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