As estações da alma.
A alma voa, deixando por onde passa... os seus rastros em forma de poesia.
Textos
   







            O poema que eu não tive



                                   

Recordo... 

Havia um poema tão bonito parecendo ser escrito
com a tinta dum coração apaixonado.
Feito com um amor desenfreado, depois no silêncio e escuro do quarto,
ele foi guardado, mas, cansado de esperar quem o lêsse, pela janela,
feito pó de sonhos, foi jogado.

Trocou cada letra por imensa saudade,
de um outro tempo em que amar era realidade.

Transformado em poema infeliz, banhado pelas lágrimas da fantasia,
daquelas que desfilam no palco, ou numa esquina da vida,
sem ter quem lhes dê um lencinho branco para devolver
a paz que um dia alguém levou, já não era um poema de alegria.

Era um poema sem vontade,
sem forças para ir mais longe, fragilizado,
entrava  nas casas desabitadas, e no silêncio sentia a dor,
na surdez de frases que não foram ditas, de um vencido
pelo orgulho, sentindo uma dor, calada,
deixando uma alma para sempre aflita.

Tem poemas assim,
que descrevem portas que permanecerão fechadas.

Assim também serão os sonhos de algumas mulheres,
que carregam em si qualquer coisa que apenas lhes deixam vivas,
sem terem coragem de viver a realidade, que um amor pode causar.
Antes vivem de lembranças,
assombradas por vozes que lhes chamam
para um mundo inexistente, assim se retiram de suas infelicidades.

 
Escrevem poemas sem nexo, poemas invisíveis,
entregues ao léu,
não conseguimos neles, absorver uma compreensão sequer,
perdem-se na escuridão, envergonhados,
feito mulheres que escondem-se
e escondem suas belezas por detrás dos seus véus.

Refaz-se numa vã tentativa, o poema,
que chega disfarçado de flor, mas,  já não alimenta
uma alma completamente desiludida do amor.

 
Eu queria um poema que fosse luz, fosse solução,
fosse um recado sincero,
que fosse repleto de palavras de amor, sem sofrimento, sem partidas,
sem um adeus definitivo, um poema que fosse mais que vida,
Que fosse um caminho de felicidade para o meu sofrido coração.

E ele não trouxesse desenhado o rosto de uma mulher desiludida,
Que em sua solidão, com um sorriso se perdeu.
Que não fosse um poema trazendo uma  triste flor dum jardim, esquecido.
Que essa mulher não fosse você, nem fosse eu.
                                               


°°°
Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 09/06/2018
Alterado em 09/06/2018
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.