Poema inacabado
A vida estava no olhar, nas palavras e nos ouvidos, estava nos desejos, estava no amor, estava na parede sem pintura, na calçada quebrada, no lodo escorregadio, estava na cor da flor. A vida estava no sopro dos ventos, no banhar das marés, estava em alto mar, no veleiro, estava no segredo escrito num cantinho escondido do convés. A vida estava, mas você não queria senti-la, arrumava qualquer desculpa, inventava amores sofridos, só para não correr para os braços da vida, que chamava, sorria, e os campos floridos, a vida corria... Por você a vida gritava, em vão, sempre em vão. Até que um dia uma criança lhe sorriu, começou à cantar, beijou as flores e começou a gritar o seu nome, a cena foi lhe cativando, o seu coração se desarmando, sem perceber você outra vez aí pelo mundo, pedindo mais vida e força, e de tanto amor suspirando. Ah a vida é mesmo esse poema inacabado, é essa vontade de acordar, é esse sorriso tão lindo que a criança traz no olhar.
Liduina do Nascimento