As estações da alma.
A alma voa, deixando por onde passa... os seus rastros em forma de poesia.
Textos






 
Eduardo





Tenho estado distante de todos os meus netos, eles moram em outra cidade, no mês que vem vai fazer um ano que não os vejo pessoalmente... Sinto a falta deles, isso me quebrou um bocado por dentro, as conversas pelo telefone, as chamadas de vídeo, não é a mesma coisa de estar perto. Não é que hoje eu esteja com mais saudade, é impossível sentir mais do que já sinto, até porque eu sinto a falta deles todos os dias, infelizmente estou impossibilitada de vê-los nos tempos atuais, por conta da pandemia, esse é o único motivo que me prende, nos falamos todos os dias, estamos distantes, a cerca de quase quatro mil quilômetros. (talvez seja a minha sina, viver longe de grandes amores (a quase quatro mil quilômetros) A falta do Eduardo meu netinho mais novo, em particular, mexe com a minha emoção, é que o nosso convívio foi intenso demais, todos os dias quando eu chegava do meu trabalho ele me recebia com uma alegria tão grande, e não saía mais de perto, contava as coisas que tinha feito, e pedia para eu contar histórinhas para ele, e nós dois viajávamos em fantasias, e quando por algum motivo eu não podia lhe dar maior atenção, ele inventava coisas, tipo se eu estivesse no computador, ele dizia: _ Computador você está bem? Você viu a vovó por aí? Eu preciso falar com ela... _ Eu caía na risada e ele ria junto, e quando eu ia fazer o meu jantar, eu cortava os legumes e ele ia dizendo _ Vovó isso é cenoura ou tomate? É claro que é tomate não é vovó? Gosto muito de tomate cru, vovó coloca só um pouquinho no prato pra mim, vovó por favor, hummm que cheiro gostoso! O que você está cozinhando vovó? É omelete com legumes? _ E quando enfim eu aprontava o jantar, é claro que jantávamos juntos eu e ele...

O dia em que o Eduardo nasceu, foram cinco dias que fiquei internada de acompanhante, junto com a mãe dele na maternidade, e foi assim com todos os meus netos, da hora que ia para a maternidade, eu só saía de lá depois de tudo estar resolvido, não confiava em mais ninguém para essa missão... Lembro quando eu vim com ele da maternidade, um pingo de gente. No caso do Eduardo foi por um período maior, que permaneci de acompanhante no hospital, foi um parto com muitas complicações, o da mãe dele, e recordo que foram horas angustiantes em minha vida, mais de cinco horas passei do lado de fora da sala de cirurgia, sem uma verdade, sem saber o que estava acontecendo. Enfim tudo acabou bem. Depois que o eduardo nasceu, dali então, só nos separamos depois que ele viajou com a família dele, então é uma falta que chega à doer. Não só dele, mas de todos eles.

Tenho três filhos e dos três, todos os partos foram difíceis demais e isso causou em mim, um espécie de preocupação fora do normal, então o meu filho me deu quatro netos, e as minhas duas filhas optaram em nunca serem mães, elas tem do mundo uma visão dura e cética, não acham justo colocar nesse mundo mais pessoas para viverem com o coração o tempo todo na mão, elas tem a concepção de que a vida é algo muito sério e não darão continuidade às suas existências.

Elas sempre dizem que é responsabilidade demais colocar filho no mundo. Chego quase à concordar com elas, mas eu sempre quis ser mãe, desde cedo, e não tenho do que me queixar, amo os meus três filhos maravilhosos, sem ter como, ou para quê explicar assim tanto amor. Nem preciso.

Posso dizer que essa forma de amar de avó, é um amor à parte é um amor diferente... Você ama sabendo que daqui a pouco eles vão viver as suas vidas, também é assim com os filhos, é assim com tudo na vida, mas o Eduardo trouxe uma sensação de que nunca iríamos nos separar, que ilusão, e parece que arrancaram o meu coração quando ele foi embora, quando eles foram eu passei um mês literalmente doente, o tempo foi passando veio a pandemia e os temores foram tomando outras dimensões, tantas coisas acontecendo.

Depois as coisas foram se acalmando pelo menos aqui dentro de mim, mas a falta do Eduardo e dele minha, é algo muito forte, ele me pergunta vovó quando você vier aqui você não vai mais voltar, e eu vou deixando aos poucos, ele menos apegado, para que ele vá se desligando de mim, ele tem a vida dele lá, está tudo bem, mas sinto muito a falta, sem externar para eles, o que sinto, o que não tem jeito não tem, a não ser me conformar.



Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 19/02/2021
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