Paredes
Às vezes eu saio um pouco de mim e das minhas fantasias,
vou viver o que as pessoas que se dizem normais vivem,
confesso que não gosto muito,
sinto-me estranha, esquisita e um pouco evasiva,
Será mesmo preciso?
Acho tão urgente voltar para casa...
Quando eu deixo as paredes do meu quarto falando sozinhas,
eu sinto falta do que elas me falam todas as noites,
há uma parceria inigualável entre nós,
Elas me falam das minhas crianças
que se foram cedo para os ninhos que eles construíram,
Elas me dizem pra eu não me culpar pois em nada eu errei com eles,
Será?
Dizem pra eu aproveitar o tempo...
Que tempo?
Dizem também pra eu acreditar no sonho de viver à lua cheia,
Àquele amor sonhado, que é a minha lua, o meu encanto.
Dizem também pra eu dele não desistir jamais,
Falam que eu sou muito chata, e que procure
sair por aí com as minhas poucas amigas,
enquanto o dia desejado não chega e pra eu me preparar
para a surpresa de ser barrada pelo tempo se esse dia não chegar.
Ranzinzas elas são, como eu,
as paredes do meu quarto estão envelhecendo comigo,
de vez em quando eu as mascaro, troco as suas cores,
Mas elas, como eu, não esperam muito da vida não,
acho que o nosso tempo acabou.