A vida sem os muros
Temos muito medo do novo...
De repente o verde e o seco das folhas ao longo da viagem,
foram trocados por novas paisagens,
Trocados pelo prazer de receber a brisa de novos amanhãs.
Desde cedo, bailavam os pensamentos:
A pescaria à beira do açude,
O gosto do café fumegante,
adoçado com rapadura.
O canto do galo na próxima madrugada.
O cheiro do cuscuz feito do milho retirado do seu galho.
A nata grossa feita na hora.
As janelas todas abertas, sem a preocupação de fechá-las, as redes estendidas
no alpendre. Um casarão sem muros, e sem grades...
E em mim, as vozes dos meus antepassados invadindo a memória,
para a minha alma, um bálsamo. O meu amor por um lugar sem esquinas, sem quarteirões, no seio da mata.
No entardecer para coroar, veio um arco-íris...
Eles são sempre perfeitos.
O ir e vir dos pássaros, e eu aqui, sem ouvir as buzinas,
sem o barulho dos telefones, aqui sem a irritante poeira,
o calor foi trocado pelo frio gostoso bem no início da subida da serra,
que não é uma serra qualquer, é o meu paraíso.
Anoitece, os pássaros se recolheram, as galinhas também...
Ouço os gritos de bichos que não sei, e não tenho medo,
nem temo mais a minha solidão interior, ela que descanse.
Agora, no topo da serra e de minha alma,
Um silêncio e o olhar reflexivo de sempre.
Tudo que era ruim fica agora distante, parecendo tão sem sentido
seguir outro destino que não fosse este.
Por dentro, a certeza de que um dia é aqui que irei descansar para sempre.
Hoje fez um dia chuvoso, melancólico, muitas lembranças,
e sobre o meu mundo eu tenho domínio.
Agora vamos ao peixe fresquinho com àquele cuscuz.