Mal humor
Abre os olhos, respira fundo, pensa qualquer coisa nos primeiros segundos, sonolento tenta deixar o aconchêgo dos lençóis, nenhuma luz invade o quarto, a porta ainda fechada desmente o despertador, que já não faz ameça, assimilando a responsabilidade que o aguarda lá fora, com o dia bem claro, boceja qualquer coisa sem ele mesmo conseguir entender, seu raciocínio ao despertar é lento, longe de ser àquele homem forte, alegre, ágil e inteligente. Poucas palavras durante o café, sem apetite, e mal humor, a sua vontade é correr antes que o trânsito aumente o fluxo, odeia engarrafamentos, resmunga o descontentamento, preferia estar numa cidade pequena, dessas dum interior qualquer, falta um tempo ainda para descansar, trabalhar é preciso, tem uma família para sustentar, ainda dá para aguentar bastante, é que viver com dignidade custa caro, dá para sobreviver mais ou menos. Agora vai à luta, perdeu as contas dos tantos bom dias - Bom dia, e na rotina esquece que por mais que proclamemos liberdade, somos escravos de nós mesmos, por isso é preciso valorizar cada sonho perdido, cada experiência vivida, para quando um dia podermos descansar, não nos sentirmos no fim, porquê há sempre tempo de recomeçar, saber usar a liberdade, privilégio que não é para qualquer um. Com essa esperança, batendo à porta, ele sorri.