Em cada esquina as lembranças ficaram agarradas
nas cercas, nos muros, nas varandas,
indo e voltando ao balanço dos ventos, tentando
sobreviver às desilusões que já nem eram desilusões.
Queria ir, precisava.
Na bagagem levava um resto de sonho vestido de esperança,
vencendo suas decepções, era cedo ainda,
a estrada era o tempo,
e o tempo era um abrigo à acolher tantos anseios que
já não era tormento, mas, expectativa, aventura,
iria provar cada segundo
de tudo que a vida lhe desse direito.
– O que ponderei, para não magoar quem me feriu?
As palavras ferem tão fundo, prefiro ser ferida à ferir,
engoli à seco tantas injúrias,
tantos conflitos que não foram criados por mim.
Nem sempre todo amor é o bastante,
deixarei pendurado nos galhos das árvores, nas roseiras,
nas cores das borboletas os voos reprimidos
da minha alma que agora consegue unir-se sem reservas
às minhas novas escolhas, deixo também a pior parte de mim,
para me sentir plena,
tentando reconstruir e aceitar o que ficou.
Quando escolhemos viver sem fantasias, enfrentar a realidade,
aprendemos a razão do que é realmente viver.