Travessia
ao amanhecer da consciência que nem sabia ser,
no desejo de que a alma não se perdesse,
e a música não tivesse pressa, nem tivesse curvas,
tanto quanto os caminhos desconhecidos
que a vida aponta, fosse direto ao ponto.
E antes encontrasse o fio de um pensamento certo,
livre para fugir... um contratempo seria demais
para que pelo menos os sonhos perdessem
a oportunidade de ultrapassar os limites da realidade
inaceitável sem machucar, ou machucar-se.
É que eles vinham de uma impossível travessia,
os seus ouvidos estavam surdos de tanto escutar absurdos,
a alma cansada dos impecilhos, com as mãos tão cansadas
de estarem atadas à fronte, como à implorarem por
qualquer coisa que por certo, das verdades cegas,
sem quaisquer direitos.
A rua? ..... Era tão somente uma rua
de casas silenciosas no escuro, também trancadas feito
a alma, com anseios horríveis por dentro dos portões
de ferro.
E de palavras presas dentro dos muros, falas que
não passavam do limite da vontade de um simples existir,
elas, feito àquele amor, não ultrapassariam jamais sequer
o outro lado da rua, que nem rua chegava a ser,
além de um sonho engaiolado, não havia rua nem vida,
era uma vida, prestes à sucumbir por não ter mais
um último caminho, era a fantasia desperta, sem ter para
onde ir, corroendo por dentro, voltando vazia e sozinha,
no Lago Jacarey.