Às cinco da manhã
O sol, não iria demorar muito, para começar a arder na pele, quanto mais cedo ela começasse a sua rotina, mais saudável seria, o prazer de sentir o vento vindo de longe, refrescando, fazendo rodopiar as folhas secas e as roupas no varal, oferecendo o cheiro de café, essa era a vantagem de não haver perdido o sono na noite passada, dormir antes da meia noite, garantia despertar com mais disposição.
Acordar às cinco da manhã, já há um ano, não era o seu costume, mas gostava de se levantar logo que acordava, para sonhar não precisava dormir... caminhar já não era seguro, as plantas já haviam sido regadas. Estava quase chegando o meio do ano e no máximo quatro dias salteado em abril e um pouco no começo de maio, de chuva, foi o máximo que se teve na capital, o que restou foram dias e dias ensolarados, de muito calor, a terra ficava tão mais seca muito rápido, e por isso as flores precisavam diariamente de água, embora houvesse algumas suculentas resistentes à seca, enquanto isso, os raios de sol invadia a sala de estar, agora sentada à mesa olhando para o lado de fora, Ana tomava o seu café, e tudo para ela era o seu melhor momento, do tirar o excesso de folhas amareladas das plantas, à colocar a ração da Gigi, sua mascote, ela era uma gatinha calma, quase não se ouvia o seu miado, mas era ótima ouvinte, quando os seus netos foram embora, a Gigi ganhou ainda mais espaço em seu coração, tudo ela fazia pela gata, ela tinha a impressão de que ela a escutava, e entendia.
Como se fosse uma devoção, ela folheava um dos livros que ela sempre tinha ao seu alcance onde quer que fosse, ela lembrava exatamente o dia em que recebeu cada um deles, e em seu coração havia uma grata alegria, ela relia a dedicatória, e a letra dele, ela olhava e sorria, quando a vontade de ler os pensamentos do seu amado, batia forte, na impossibilidade de vê-lo e de tocar as mãos dele, ela lia afetuosamente seus lindos pensamentos e poesias, o jeito dele escrever, era para ela como uma oração, ela venerava tudo nele, até as capas dos livros, ela amava, percorria a sua ilha interior, e eram tantas vertentes, mirava o horizonte e as suas veredas, atravessava os seus oceanos, às vezes ela pausava, fechava o livro e ficava imaginando no quanto amor por ele ela tinha, desejava que o seu sonho se tornasse realidade, fechava os olhos e muitas vezes quando olhava ao seu redor, estranhava que ele não estivesse ali, era real demais o que ela sentia, o fato dele existir lhe deixava contente. O que era mais importante em tudo àquilo era saber que ele pensava nela também, e mesmo sem dizer, eles tinham o seu jeito de amar, ela, exageradamente... e ele de vez em quando precisava lhe frear. Embora nos últimos anos ela tivesse amadurecido só um pouquinho, a Ana tinha uma alma intensamente sonhadora e quase nunca colocava os pés no chão, ela gostava de voar, ele ainda a acompanhava em alguns voos, vez por outra a realidade, fazia ela despertar, mas por pouco tempo.
Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 28/05/2021