Trechos da minha memória
Antes que um dia desses, a minha memória venha a falhar, embora possa tudo parecer bobagem, para mim é importante, vou aos poucos registrar, talvez um dia eu precise que alguém leia em voz alta as coisas que estou a contar o que eu não quero esquecer, porquê somos feitos de passado, o que mais traz referência para a nossa vida, são as memórias de infância, ainda mais quando as memórias da minha infância tenha sido repleta de coisas lindas e marcante naquele mundo que para mim, parecia o mundo mais lindo e era exatamente dele, que eu queria ter sido parte... neste mundo hoje capitalista, tudo tem um valor material, gosto de recordar as coisas que lá vivi, quando os meus pais me levavam sempre para as minhas férias passar, e são tantas tantas recordações, do lugar e das pessoas tão amadas que moravam lá... eles cedo demais se foram, tios, tias, primas, avô, avó, e foi assim na infância e na minha adolescência, juntavam-se ali os que já moravam lá, e os familiares de Fortaleza, iam também nas férias para lá, e enchíamos as casas, éramos recebidos sempre com muita alegria, e com toda certeza, como esta é a minha história, certamente escutando, se houver paciência, haverei de recordar.
Esse lugarzinho lá em cima da serra, até hoje, no meio de tantas e tantas outras serras, um lugar encantador, de onde vieram os meus pais, são caminhos estreitos, de chão batido, cercado de verde de todos os tons, das plantações de arroz, milho, de bananeiras, mangueiras, entre tantas outras , amarelados de Ipês que enfeitam os cantos por onde os olhos alcançam, lá é como se o tempo estivesse parado e mantido e hoje solitário tudo igual ficou. Às vezes olho para as fotografias do tempo em que eu ia para o Riacho das Pedras, olho a casa do meu avô Marcolino, que está bem conservada, porém sempre fechada, a única alegria permanente por lá, é a da natureza que permanece maravilhosa, com tanto verde, tantos frutos, tantos pássaros cantando felizes no meio de tanta fartura.
Contando como começamos as nossas vidas, mesmo nem havendo assim tanta evolução, naquele tempo, nem dá para acreditar, onde nós morávamos, pensando de hoje, aquela nossa casinha antiga, era só simplicidade, era muito pobrezinha e tão modesta, ainda assim, construída com varas e barro, com amor e muito suor… casinha de taipa, não havia muita coisa nela, era o básico do básico… Minha mãe, dentro dela, cuidava de tudo e de nós, com muito trabalho e amor, a nossa casinha criou vida, conhecia os nossos tantos medos, de noite a luz era ou da claridade da lua, e dentro de casa era uma lamparina, assistiu a filharada pouco a pouco chegar e com o tempo, em uma casa muito maior se transformou, recordo que enquanto éramos seis, eu e meus irmãos, ajudamos a cada tijolo nela colocar, e era uma festa, de tudo ríamos, de noite corríamos atrás dos vaga-lumes, e quando enxurrada, a algazarra era grande, descíamos os barrancos com água e areia, e as águas nos levavam, arrobando as barreiras que fazíamos, só para descermos a rua, e em outro quarteirão parávamos, ensopados, com frio e felizes, eu e os meus irmãos, agora esta, guarda as tantas memórias, basta em frente dela passar, e lançar um triste olhar… esconde tantos segredos, tantas lembranças com ela se foram, e com ela, um a um também se foram, pouco dela restou, senão esta saudade.
E onde tudo começou... foi lá na serra, quando os meus pais se casaram e vieram morar em Fortaleza, aqui teve cada um de seus filhos...
Riacho das Pedras - Redenção
Riacho das Pedras -Redenção
É incrível como o tempo marca a alma da gente, marca os lugares, as paisagens singelas... e as lembranças vem feito um clarão que entra rasgão na negra noite, ou seja ao escaldante sol do meio dia, mas quando nos dias chuvosos toma conta de mim, a melancolia, adentra intensamente, causa frio que percorre os recônditos da existência com toda ousadia... Redescobre os segredos, dos desejos e dos sonhos, a vida traz um amor que a razão contagia. Então você percorre os labirintos que a alma aponta.
Redenção é uma cidadezinha do interior, que mexe com o meu interior... Cidade onde guarda as origens dos meus pais, e até alimentei o desejo de quando eu descansasse para sempre iria para lá, me juntar aos meus antepassados queridos, mas a vida às vezes nos dá outro rumo... ali já não aguarda a minha velhice, somente na vontade.
Ali... Onde os pássaros vem me despertar cedinho. Cidade da libertação dos escravos. Nasci em Fortaleza, mas a minha cidade de alma e de vontade, é Redenção. Onde reencontro as raízes. Onde dormem os meus antepassados, entre as serras verdes em tons variados, a fonte da nossa particular miscigenação. Ainda posso ouvir gritos e tilintar das correntes. É sempre uma curta viagem que me fascina... Silencio, bagagem e vou sonhando de olhos abertos como que hipnótica sensação. No percurso, janelas abertas recebendo a brisa natural e o vento com cheiro de relva levando uma suave sensação pra dentro de mim, fotografando flores silvestres. Com lágrimas de saudades dos que já partiram e as que deixo para trás, vou à Redenção!
Comigo vão as recordações, do meu pai dos meus avós, dos tios queridos que se foram, e dos meus irmãos que a eles fizeram companhia... Sim, levando muito da minha verdadeira alegria. Estradas... Caminhos... De um lado serras, do outro mais serras uma imensidão! Alturas.. De serras, de pedras de encontro ao firmamento, é ali que eu descanso deixando para trás tantos pensamentos e angústias. Não tem edifícios, são casinhas simples com fogão à lenha, sem quintal fechado, sem muros, o quintal é serra onde nelas se perde o alcance do fim que contrasta verde com o azul do céu...
Um frio gostoso que aquece a alma da nossa existência. Na chegada a alegria dos familiares queridos que tão bem nos recebem... Nem dá vontade de voltar. É um outro momento, que me proporciona muitas Alegrias... Sem dúvidas. Reencontros, risos, conversas jogadas fora, somos o que ficou de toda história. A casa grande do meu avô Marcolino é a mesma, as serras são iguais mas nós não. Me vejo ainda menina passeando, correndo ventos no rosto, férias! Agarrada nas mãos dos meus pais, bateu agora uma saudade imensa, saudade feliz por ter ter vivido tudo aquilo. Retornar me faz sentir de repente madura; Serras, terras de Redenção. Elas sabem que um dia nelas descansarei para sempre.
REDENÇÃO - CEARÁ
Onde reencontro os meus antepassados entre as serras verdes em tons variados, raízes recentes e miscigenação, ainda posso ouvir gritos e tilintar das correntes no percurso, janelas abertas recebendo a brisa natural e o vento com cheiro de relva levando uma suave sensação por dentro de mim, de saudade dos que já partiram e as que deixo para trás, vou à Redenção! De um lado serras, do outro mais serras uma imensidão! de terras de encontro
ao firmamento, é pra lá que irei deixando para trás tantos pensamentos e angústias desconhecidas as quais não estou lidando bem com elas, será um outro momento que me proporcione quem sabe...
Alegrias... Sem dúvidas Reencontros, risos, conversas jogadas fora, mas seremos restos, sobras de gente que sobrou de tanta história A casa é a mesma, as serras são iguais mas nós não. Quando me vejo ainda menina, passeando, correndo ventos no rosto, FÉRIAS! Agarrada nas mãos dos meus pais, bate agora uma saudade saudade feliz por ter ter vivido tudo aquilo saíamos de Fortaleza, para termos liberdade sendo verdadeiramente criança, correndo rindo brincando com as raízes da terra, tão nossas junto à natureza... que está lá.. e é a mesma.
Retornar me faz sentir de repente "madura" Serras que sempre me esperam... Elas sabem que um dia nelas descansarei.. Estou fugindo literalmente para lá... Nada trocaria por esse momento, nenhum castelo ostentando riquezas, belezas, isso não combina comigo. Vou.. E onde durmo com os pássaros cantando, o coachar dos sapos, e o cri cri dos grilos... E NA LEMBRANÇA as vozes dos antepassados meus. Vozes de infância que se passam em meus sonhos, meu pai, minha avó eles outros que já se foram de mim... Me deixaram esse ser tolo, frágil cheio de sensibilidades.. Feliz as vezes, outras chorando.
As feiras livres... de Redenção
Na infância tudo tem uma dimensão maior às nossas vistas, lembro que uma vez eu falei pro meu ex-marido, na verdade, que a casa do meu avô lá em cima da serra em Redenção-Ce., era uma casa enorme de varanda rodeando toda a casa... com terra que se perdia na visão... não menti na dimensão da terra, mas a casa... era grande, aliás ela até hoje é grande! Mas não tão imensa como falei pra ele... E passei muitos e muitos anos sem visitá-la. Quando já tinha meus três filhos bem pequenos, resolvemos subir à serra com as crianças... Ele amou a subida e o cheiro de relva! Encantou-se.... Quando chegamos à casa, a primeira coisa que ele observou... _ Você não falou que a casa era enorme! Passei uma vergonha! Na cidade ainda citada de onde vieram os meus pais, o que eu mais amava eram as feiras dos domingos...
As feiras nas cidades pequenas especialmente em Redenção, ah são incríveis! Até hoje, adoro. Era algo fabuloso ficou em minha memória até os dias de hoje... sempre vou por lá, caminhar, rever antigos e velhos lugares e amigos dos meus pais, e a minha família. Ali era ponto de encontro dos meus antepassados... HOJE QUANDO PASSO POR UMA FEIRA IMENSA... coração saudoso... recordações que acalentam a minha vida e também maltrata por não ter mais nenhum deles ali, tudo lá é tão só! Recordo com amor e como um tesouro bem guardado!
Estavam todos lá, espalhados por todos os lados... todos as manhãs de domingos; papai, meu avô paterno, avó materna (madrasta), os tios Manoel, Raimundinho novo, Raimundo o mais velho, Expedito, Zé Maria, Joaninha, Mazé, Rosinha, Chiquinha, e tantos primos... A mãezinha e irmãos dela: João Setúbal, Antônio branco, Antônio preto (Toinho), Luiz, Geraldo Piaba, e algumas esposas.. Todos esses personagens faziam a feira festa!
E a bodega antiga, era ponto de encontro de todos da família e amigos, que se reuniam todos os domingos, desciam da serra para a pequena cidade no centro, cada um com seus cavalos, outros vinham no pau de arara...
E a visão linda! Verdes e todas as cores, frutas verduras, fresquinhas, tinha de tudo! Muita fartura! Era gente demais invadindo o centro da cidade ao lado da matriz (Igreja), descíamos cedinho da serra para a pequenina cidade, em todas as minhas era as férias de julho... Era as festas matinais pra minha infância aos domingos..
Dessa família toda hoje, apenas nos restaram poucos, um tio único (Zé Maria) amo meu tio... ele retrata toda uma história, já falei pra ele que ele está proibido de morrer... fofo!
Tem a minha mãe... e alguns apenas.. Os outros estão enterrados no cemitério de lá mesmo entres as serras verdes... todos... Inclusive, dois irmãos meus minha avó (mãezinha) Saudades! As feiras continuam, sempre retorno por lá... Mas aquelas feiras! Nunca mais as terei...
Serras
Hoje... A minha alma pede trégua! Todo silêncio ainda é pouco, preciso ainda além do silêncio. Quero viajar!
Para um lugar onde ninguém me encontre. Hoje eu não quero saber de romance ou poesia. Do dia de hoje eu quero muito pouco... Eu não quero incomodar. Não quero conversa, nem euforia. Quero pegar a estrada... Mesmo que não seja minha. Vou sair antes que chegue o por do sol... Ele hoje está livre do meu olhar saudoso, não quero que o sol me encontre 0assim comigo mesma... Pensando aqui sozinha. Não quero descer para atravessar a ponte. Não quero sentir. Não quero tomar banho de chuva... Quero ficar em silêncio olhando os montes. Não quero alcançar o horizonte. Não quero da vida a sua efêmera beleza. Não quero filmes românticos, com final feliz, nem de desenganos. Não quero sentir saudades... Nem tristeza. Não quero mais nada. Hoje nada quero sem antes concretizar meus planos. Hoje... O amor precisa descansar... Vai aguardar o retorno de mim mesma. Riacho das pedras... À pequenina cidade que eu adoro, fica escondida por entre serras, onde o sol se põe mais cedo, em Redenção-Ceará.
Do saber dos homens à inocência, da falta de malícia e de experiência, os torna uma espécie de anjo, que só em sonhos se vê, feito a simplicidade dos pastores e seus rebanhos. No Riacho das pedras, terra que eu amo,
interior onde nasceram os meus pais, até hoje continua a pureza do dia-a-dia. Os agricultores no emaranhado de serras, não se perdem, plantam e voltam ao entardecer. Com seus esforços, ganham seu sustento, sem ódio, com o seu suor, vivem sem ambição, para as suas famílias, e para os seus trabalhos, amam, oram e descansam para um outro dia, nem necessitam praticar o perdão. Na imensidão de terra, pelos matos, viajo aonde a vista alcança, é belo e mágico. Volto para dentro de mim mesma, há tempo para arrependimentos, e algumas reflexões.
Um tentar a desconstrução de sensações. O ar puro, é do que mais preciso, pisar firme na terra, esquecer o mundo lá fora. É reconfortante... a fumaça apresentando o café, o suco fresco de tangerina, as abelhas à voar, a poesia tem sabor de mel de engenho, da cana do açúcar, tem jeito de oração que a alma desfia com fé. Do terraço, assistindo tudo, minha alma viaja imaginando os meus antepassados. Aqui volto à ser criança, cheia de lembranças. Fujo dos meus injustos lamentos, onde tudo temos e encontramos sempre um jeito de reclamar. A quietude, a falta de obstáculos, a vontade de nunca mais sair daqui, pois tudo é somente exclamação. Original, é essa vontade de viver, desejo esse que me chama, para nos campos correr, aproveitar tanta beleza. Desse ângulo,
qualquer leitura ou escrita se torna em vão.
Paizinho... Meu avô.
O meu avô paterno, o chamávamos de paizinho. Ele era um homem sério, porém de muitas tiradas nas reuniões ao redor dele na serra, para ouvirmos suas histórias "era o mestre Marcolino" Um vez um lavrador de suas terras, chegando tirou-lhe o chapéu em cumprimento, respeito ao seu patrão.. tímido , meio triste e disse _ mestre Marcolino, "bor" noite, fulano de tal passou dessa pá mió querdita? _ Paizinho: _ Eu não to lembrado, qual o nome dele? _ele repetia; _um homem tão moço! _oh sim, lembrei agora e de que foi que ele morreu, ele tinha a minha idade não era? _ tinha não "meste" era mais novo, quer dizer; tava acabado, acabrunhado... meste era um cachorro véio, assim QUE NEM O SENHOR, mas acabou-se cedo. Lembro: (o meu avô ria tanto, contando as proezas da ignorância) e inocente forma dele se referir à ele. Longe de achar que o ofendia.. e o meu avô apenas sorria... saudades do meu avô.
_ De repente,
Sem que ela esperasse, a máquina chamada tempo, lhe arrastou para um passado muito distante, quase apagado.
As nossas lembranças são ventos que não descansam em nós, são fragmentos do tempo que vai nos transformando, transportando, moldando-nos, mas não esquecemos as nossas raízes, nem as recordações que nos emociona. Você vai juntando o que ouviu na infância, e muito mais o que vivenciou. Então não quer que alguns pontos importantes para você mesma, fiquem esquecidos, ...Dos fatos marcantes que ao longo da vida você vai deixando para trás, sendo a bagagem do seu inconsciente para a sua formação como ser humano.
A convivência com a sua família, com a natureza, com as dificuldades, recordações dos esforços e de suas grandes responsabilidades de quase seis décadas, dos seus primeiros dissabores... É você olhar para trás e sorrir recordando os cenários. É você chorar de saudades, daquelas pessoas queridas que passaram por sua vida e que nunca mais voltarão, porque já não estão mais vivos, bem como os irmãos, avós, e seu pai. A forma como os perdemos... Nem parece que foi real o que passamos, de bom ou de ruim... Mais se parece com pesadelos do que com os sonhos e com sonhos daqueles que ao despertamos, sentimos alívio ou sentimento de perda, então a saudade machuca. Porque lembrar os sofrimentos. Porque não ressaltarmos somente o que nos fez feliz?
Continuarmos o nosso caminho, nesse jeito antigo de ver o mundo e tudo o que nele está contido. - Dá ainda mesmo que com a mente cansada, caminhar em lembranças, pelo jardim da casa da mamãe, mexer nas suas margaridas, nas rosas dálias, no amor-perfeito, nas boninas, nas rosas vermelhas, rosas cor de rosa, amarelas, brancas, nos bugaris, nos jasmins, nas espirradeiras, nas florezinhas de nome primavera que subiam à cerca da frente da casa, assim era o seu muro feito de varas. ...Dá para sentir o cheiro das flores, e mais adiante, a hortaliça, era tudo tão bom, tão verde, e da latada de maracujá amarelinhos. Ali não faltava todos os dias as borboletas, não mesmo, não faltava o beija-flor. Era muito mais bonito de se ver do que de se lembrar... Não faltava também no enorme quintal da mamãe, longe do seu jardim à frente da casa, a criação de porcos, galinhas, patos, ... E no meio da tarde o café preto, sem leite, sem creme, era um café simples com tapioca com côco e o pão. Lágrimas, de saudades.
Hoje, não tem mais nada disso, nem a casa está cheia de irmãos, todos seguiram suas vidas, ela, a minha mãe, está velhinha, quase sem poder andar, conta as mesmas histórias, e eu as ouço, repetidas vezes e gosto, fico olhando para ela e lembrando a mulher forte que ela foi... Quando ela pergunta; - Tu se lembra? _ Lembro disso mais não mamãe. ( respondo, esperando ela relembrar e me contar) Ou por outra a ajudo à se lembrar. Quantas vezes rimos e choramos juntas nossas saudades; É a vida, são as nossas memórias, a alegria e a dor de cada um.
PAUSA
Hoje, só hoje as palavras já estão quietas a dor já é apenas lembrada a história, virou uma estória. Nada quero dizer, não que eu não sinta, Só que o momento é outro.
A vida não se resume nas lembranças de infância, nem nos prados, muito menos nas flores silvestres... não ficou no fundo musical com o coro de pássaros cantando, nem nos sonhos noturnos iluminados pelas luzes esperança, dos vaga-lumes...
Tantas e tantas coisas aconteceram depois...