Quietude
Na correria dos dias querendo me engolir, a cada passo que dou dum espaço para outro, sinto o calor absurdo atual, que parece nos consumir e causa desespero... Tanto já corri por esta vida, a essa altura do tempo, eu já deveria aproveitar a paz da serra num grande sossego, ainda falta um pouco, para ficar mais por lá. É isso o que eu mais quero! Não perco tempo, a cada oportunidade que surge, as estradas me chamam... Vou. A cada parada vou desejando chegar, e pensar que a cento e vinte quilômetros posso alcançar o paraíso aqui na terra, o meu olhar se perde pelas serras, os meus ouvidos se encantam, além disso nada mais quero.
Quietude e silêncio ...
Colho flores silvestres, faço alguns arranjos, e me sinto num pedacinho de céu, como se nada mais precisasse, mas no fundo eu sei que daqui a pouco precisarei voltar, a vida lá embaixo urge em acontecer. Não me canso de em cada detalhe me deter, é uma flor ali, é o canto em coro dos passarinhos quebrando o silêncio, cantam cantam que não dá para distinguir, é uma fruta madura que cai, doce feito mel, é um mundo eu diria de total encanto, o verde no verde, são tantos tons, tanto colorido de pássaro e de flores, não acredito que um dia dali, para a cidade grande eu queira voltar. Entre um instante e outro, penso em você.
E o cheiro do café é mais intenso, e os fiapos de nuvens se espalhando pelas serras, e o frio, no agasalho gostoso do sono, sob a luz dos vaga-lumes tenho a sensação de que a felicidade dessa vez não vai me deixar, o meu sonho se tornando bem real. Amanhece... e o meu olhar por entre as serras vai tentando ver o céu, e tudo de mais lindo em mim desperta.
E... já amanhece chovendo, aquela chuva delicada, fininha, como a querer fazer ainda mais bonito o meu dia, rotina? Quem nisso pensa, é tudo tão prazeroso, tão maravilhoso! Nesses dias iguais, de cenas repetidas, concluo que nada poderia querer de melhor para o resto da minha vida. As horas já me falam: _ É hora de voltar.