Exaustivo
Olhar profundo, diante a cor do mar beijando a imensidão do céu, ou seria o céu beijando o mar? Que entre si, acredito, sim, conversam, falam das multidões que pelos caminhos se perderam, falam de olhares tristes, da sede humana, falam da pálida cor que invade o rosto quando definha o amor.
Falam e lamentam a insignificância dos seres morrendo aos poucos, dos que andam famintos, debaixo de chuva ou sol, do egoísmo, e indiferença, à mesa fartam-se... enquanto carecem de tão pouco!
Falam dos que procuram abrigo, com fome, solidão, mortos de frio, querendo atenção e uma palavra que fosse, um abraço, um café quente, uma fatia do pão que ninguém trouxe. Contam da fúria, onde o céu cospe fogo, rasgando com desgosto as nuvens negras, da bravura amedrontadora do trovão.
Também falam da alma exausta querendo descansar, do fracasso da poesia e do sofrer por amar, sem motivo ou razão. E a enxurrada vai lavando as ruas, enquanto pelo rosto descem lágrimas, compaixão e desgosto, por este mundo desigual e torto.
Liduina do Nascimento