Confesso sentir saudade dos meus tempos de insônia, tempo da falta de cansaço, era tanta disposição, vontade e energia, minha alma desafiava o tempo, e os meus olhos carregavam o brilho de um dia ensolarado, dentro do peito uma sede, uma fome de vida parecia incendiar tudo, e não faz tanto tempo que tudo parecia mais ousado, ser destemida era algo comum na minha rotina, não me cansava e sempre tudo o que havia para ser feito eu fazia.
O que aconteceu com aquele entusiasmo, não sei, e quando me dou conta agora, não sinto preguiça, mas apatia, fujo como nunca, de lugares e de pessoas, nunca gostei tanto de me recolher, não acho que é coisa da velhice, embora eu não seja mais a mesma, tudo muda isso é fato, com certeza sou consciente de que o sabor da vida já não é o mesmo, estou na base do tanto fez tanto faz. Nem culpo ninguém ou o tempo, tampouco na vida, em nada queria voltar atrás, mesmo assim não quero morrer.
O que me empolgava aos poucos foi se distanciando, e a isso também fui me acostumando, queria um bocado daquelas noites onde insone, eu abria a janela da alma e me perdia olhando o brilho das estrelas, ficava feito uma adolescente admirando a lua, e quando alguém caminhava triste, uma palavra de ânimo e apoio eu sempre buscava dentro de mim, e incentivava, hoje sou mais um ser esquisito sem vontade de falar com ninguém que passa por mim, pelas ruas.
Ainda outro dia tentei buscar o significado dessa apatia, descobri que não foi ninguém que causou tudo isso, apenas não sinto mais assim tanta euforia. E se escrevo, coloco para fora um terço dos rabiscos que existe em mim, é uma fração da imensidão do que não digo e nunca vou dizer, a minha poesia é muito triste, o que ainda me dá inspiração suave, é quando minha alma viaja à procura do meu amor, que sei, é você.